quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

II

Fazia calor. Mas mesmo assim Julia foi até a cozinha e voltou com uma caneca grande cheia de leite com toddy. E estava bem quente.

Aquela tarde entediante rendeu pouco mais de uma folha. E ela não estava satisfeita.
Aproveitou então esta noite.
Esta noite em que sua mente borbulhava.
Tomando daquela caneca enquanto escrevia, sentia-se escritora. E isso era algo forte para ela naquele momento.
O momento era de ideias fervilhando.
Ferviam.
Borbulhavam.
Mas não vazavam. Exceto pelas pontas de seus dedos enquanto segurava a caneta que achou sobre a mesa da sala de tevê.
Ela não queria deixar que vissem. Ao menos não explicitamente.
Temia que não a compreendessem.
Receava que a julgassem.
No fundo, sabia que os motivos eram apenas seus. E que ninguem conseguiria alcançá-los.
Alcançá-los.
Nem mesmo ela conseguia essa proeza.
De seus pensamentos, apenas sabia. Tinha consciência de que eles existiam, mas nunca os alcançava em sua plenitude.
Sabia-os. Mas não em sua totalidade.
E era isso que lhe causava angústia.
Seus pensamentos geravam ideias de atitudes a tomar. Mas em sua maioria, de esquiva.
E ela não queria viver fugindo.
Ao ver-se como escritora, pensou nas cenas dos filmes: escritoras isoladas da família, sem qualquer relacionamento amoroso ou com qualquer outro tipo de afeto. Sabe-se lá porquê.
Mas ela não queria.
Ela sabe que tem necessidade de família, amigos. E de seu namorado.
E essa necessidade também a confunde: necessitar demais lhe torna dependente.
E isso não a ajuda a progredir.

Enquanto fingia-se escritora, fingia acreditar também que a borbulha de seus pensamentos havia cessado.
Fugia da estagnação escondendo-se nas palavras.

[...]

3 comentários:

ilario disse...

Anda lendo Clarice Lispector, é? muito legal..

† Samurai † disse...

queria ter ao menos 1/3 d sua capacidade de escrever coisas alegres e normais!

não sei mtu o q comentar a não ser "me identifico com sua personagem".. se inspirou em mim foi?
kkkkkk


estou aguardando o resto do conto!

parabens
bjus

D u d e disse...

Porque todo mundo tem metade só e metade acompanhada e no fundo um meio artístico ou literário como quiser chamar é uma forma de jorrar sua outra metade...
quem escreveu isso não fui eu, foi meu eu lírico! rs