domingo, 30 de janeiro de 2011

V

Ela não podia botar a culpa na TPM. Nem no calor daquele dia inteiro.
Resolveu então colocar seu puff roxo na sacada de seu quarto.
Um ar fresco começou a tocar seu corpo. E ela pôde então observar. Via seu quarto de um ângulo diferente.
Passado, presente e futuro se misturavam entre as fotos, pelúcias, enfeites.
Até mesmo aquelas paredes. Eram rosa clarinho, exceto por uma lilás.
Julia lembrou que haviam coisas que só as paredes do seu quarto sabiam. E ela gostava disso, paredes tem ouvidos, mas que tenham boca ela nunca tinha ouvido falar.
Ela via seus anseios de futuro misturados à sua nostalgia. E nesse momento pensou, pela primeira vez, se não seria esse o motivo de boa parte de seus conflitos atuais.
Ela queria ser livre, mas gostava de pertencer a algum lugar. Dizia querer mudar-se para longe, onde só encontraria desconhecidos. Mas diz isso porque sabe que poderia voltar a qualquer momento. E  a qualquer momento, aquelas pessoas, aquelas que ela consegue contar nos dedos das mãos, estariam esperando por ela.
Ela quer encarar as tempestades. Mas receia abandonar o ninho quente e acolhedor.
Ela é intensa. Nos medos e amores.
Hoje, pouco após acordar, chorara. E ao lhe perguntar, Julia não soube explicar o porquê. Soube apenas dizer que sentira. E foi por sentir que chorou.
Ela queria botar a culpa na TPM, mas não podia.
Viu sua foto com ele no mural rosa: sua face é tão doce ao lado dele! *-* E então novamente ela sentiu. Seus olhos encheram de lágrimas. Ela os fechou e foi como se as mãos dele a tocassem. Acalmando-a.
Julia se achava intensa demais.
Continuou a olhar. É, seu quarto ainda era adolescente. E ela ficou com medo de que, quando o ano que vem chegar, ele ainda esteja nessa fase.


[...]

IV ou V ? [19.01]

Palavras organizam sua vida, mas os momentos mágicos, aqueles reais, é que realmente lhe permitem o avanço.
Avanço na vida.
No amor.
Na psiquê.
Os momentos mágicos a tiram do chão. Acompanhando aquele clichê, lhe deixam "nas nuvens".
Mas nem por isso faz com que ela esqueça de encostar os dedinhos no chão. Pelo contrário. Faz com que caminhe mais firme, e com mais segurança.
Lhe dá vontade de seguir em frente. E nunca mais parar.
Ah, os momentos mágicos!
Julia dizia faltarem palavras para descrevê-los. E o último que viveu, ah! julgava ser o melhor de sua vida. Tão intenso! Sincero e verdadeiro como nenhum outro jamais fora.
Carinhos, carícias, beijos, toques de mãos, olhares. Mãos e pernas tocando-se.
Ou simplesmente um corpo tocando levemente o outro enquanto dividem a mesma cama, sonhando.
*-*
Dois dias depois, Julia não conseguia pensar em outra coisa, a não ser naquelas 24 horas mágicas.
Horas que se eternizaram. *-*


[...]

IV [ 14.01]

E essa noite ela queria escrever. Mas não conseguia.


[...]

sábado, 22 de janeiro de 2011

III

Colocou parte do pijama, deitou-se na cama e, como de costume, pôs-se a pensar.

Lembrou da frase: “ às vezes perder o equilíbrio no amor é estar em equilíbrio na vida”. Não sabia se a frase era literalmente essa, mas gostava de acreditar que sim.
Hoje fora insana. Ultrapassara o limite de “perder o equilíbrio”.
Mas depois sentiu-se amada.
Ela descontrolou-se. Com mãos e pernas tremendo freneticamente.
Mas ele não.
Esperou o momento certo e lhe disse as palavras certas.
E Julia sentiu-se amada.
Sentiu encontrar seu lugar naqueles braços.
Braços que eram seus.
E agora mais do que nunca.

Ela sentiu ser necessária a insegurança. Pois só assim construiria uma segurança plena e verdadeira.

Sentiu o cheiro. Impregnado por todo o seu corpo depois daquela noite de amor.
Sorriu. Virou-se para o lado e adormeceu.
E eu posso jurar que ela teve sonhos mágicos.
[ com ele ;D ]

[...]

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

II

Fazia calor. Mas mesmo assim Julia foi até a cozinha e voltou com uma caneca grande cheia de leite com toddy. E estava bem quente.

Aquela tarde entediante rendeu pouco mais de uma folha. E ela não estava satisfeita.
Aproveitou então esta noite.
Esta noite em que sua mente borbulhava.
Tomando daquela caneca enquanto escrevia, sentia-se escritora. E isso era algo forte para ela naquele momento.
O momento era de ideias fervilhando.
Ferviam.
Borbulhavam.
Mas não vazavam. Exceto pelas pontas de seus dedos enquanto segurava a caneta que achou sobre a mesa da sala de tevê.
Ela não queria deixar que vissem. Ao menos não explicitamente.
Temia que não a compreendessem.
Receava que a julgassem.
No fundo, sabia que os motivos eram apenas seus. E que ninguem conseguiria alcançá-los.
Alcançá-los.
Nem mesmo ela conseguia essa proeza.
De seus pensamentos, apenas sabia. Tinha consciência de que eles existiam, mas nunca os alcançava em sua plenitude.
Sabia-os. Mas não em sua totalidade.
E era isso que lhe causava angústia.
Seus pensamentos geravam ideias de atitudes a tomar. Mas em sua maioria, de esquiva.
E ela não queria viver fugindo.
Ao ver-se como escritora, pensou nas cenas dos filmes: escritoras isoladas da família, sem qualquer relacionamento amoroso ou com qualquer outro tipo de afeto. Sabe-se lá porquê.
Mas ela não queria.
Ela sabe que tem necessidade de família, amigos. E de seu namorado.
E essa necessidade também a confunde: necessitar demais lhe torna dependente.
E isso não a ajuda a progredir.

Enquanto fingia-se escritora, fingia acreditar também que a borbulha de seus pensamentos havia cessado.
Fugia da estagnação escondendo-se nas palavras.

[...]

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

I

Ela precisava apenas de folhas pautadas e alguma caneta.
E ela tinha isso.
Existem pessoas que procuram terapeutas. Outras que ligam para os amigos. Há ainda as que comem chocolates ou sorvetes, feito americanos.
Julia também era adepta à essas soluções, mas o que lhe resolvia mesmo eram as palavras. E as combinações que elas possibilitam.
Muitas vezes sentia-se frustrada, pois julgava não saber a hora certa das palavras e por isso excluir a poesia de suas prosas. Quando criança, Julia escreveu uma história sobre “Fadas e Duendes”. Escreveu-a no computador. E quando já com alguns capítulos, insatisfeita, ela a deletou. Disse que a recomeçaria, mas nunca o fez.
E assim ela tem feito com várias outras coisas na sua vida.
Mas ela nunca deixou de escrever.
E sempre desejou criar uma história que virasse livro. Mesmo que não fosse vendida em livrarias, sonhava apenas com uma encadernação que fosse assinada por ela.


E essa tarde com o sol tentando aparecer por entre as nuvens, sentada em frente a tevê sem nada para assistir, a instigou a escrever.
Julia sentia organizar sua vida enquanto a transformava em palavras.
E nessa tarde ela sentia sua mente precisar de organização. E clareza.






[...]